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19.10.08

A Guerra dos Sentimentos

Era uma sala grande. Mais ou menos do tamanho de uma aula de aula. Os sentimentos estavam quase todos ali para uma reunião. Conversando e discutindo sobre coisas da vida, sobre como os humanos se portavam perante suas doses químicas nas veias sanguíneas e sobre a importância da existência dos mesmos. Eram todos vaidosos e cada um defendia sua importância. Até que entrou pela porta, cheio de si, o desprezo.

- Desafio qualquer um aqui dentro sobre qual sentimento é o mais predominante entre os humanos. O mais forte. O mais resistente e o mais maligno. - disse. Curiosos, os demais sentimentos procuraram saber do motivo do desafio. O desprezo prontamente respondeu:

- Não acredito que alguém aqui consiga ser mais forte e mais duradouro que eu. Eu sobreponho todo e qualquer tipo de sentimento aqui dentro. - completou o desprezo. Alguns dos sentimentos ficaram alvoroçados, outros preferiram não se meter, mas logo o amor tomou a palavra.

- Eu sou duradouro. Eu sou imortal. Sobrevivo até mesmo depois da morte. - disse.

- Eu não acredito em você. Você tem várias caras. Não tem definição. Não dorme, não come, não anda. Uns dizem seu nome em vão. São falsos com você mesmo. Te confundem com paixão, com avareza, com ciúmes. Pois você não tem forma. Na luta dos sentimentos é o primeiro a morrer. Você, no coração das pessoas, é o mais fraco. O mais ilusório. Você é utópico. Você, amor, é inexistente. - devolveu o desprezo. Diante destas palavras o amor caiu em prantos... e foi afogar as lágrimas ao lado do seu melhor amigo, o ódio.

- Alguém mais? - perguntou o desprezo.

- O que mais faz estrago entre as pessoas sou eu. Sou benevolente as vezes, mas com certeza sou o sentimento mais temido de todos. - disse a solidão.
- Vejo que você não haje sozinha. Para que você existe deve existir a arrogância. As pessoas que são arrogantes encontram você. É através da arrogância que você existe. Todos ficam esperando por um pouco de atenção, mas não prestam sequer a vontade de trocar valores entre elas. Na verdade, solidão, para que você exista deve haver inúmeros sentimentos ruins como você. Desde a arrogância, o orgulho, o preconceito... inúmeros sentimentos te alimentam... e você não é nada sem eles. Sem eles você não existe. - disse o desprezo. A solidão ficou paralisada. Imóvel. Ninguém foi ajuda-la. Sozinha ela cai no chão em estado de choque.

- Vejo que ninguém é páreo à minha existência. - debochou o desprezo.

- Eu trago o que todos buscam. Os humanos me querem. Eu sou o motor da vida deles. É em mim que depositam todas as suas apostas. Sou o norte. Sou o que chamam de felicidade. - disse a felicidade. O desprezo riu compulsivamente. Debochadamente. Desconcertadamente.

- Você!? Não me faça rir. Para aqueles que te procuram, procuram porque são egoístas. As pessoas estão fechadas em seu mundinho particular, em seu pequeno espaço de terra e dizem que isso é a felicidade. Você morre na primeira turbulência que uma pessoa passa. Em questões de segundo eu posso levar a pessoa do céu ao inferno. Você é frágil. É quase inalcançável. E, quando alcança, a sua existência é tênue. Diga-me, se todos estão à sua procura, porquê você insiste em se esconder? Outra coisa, porque você só bate à porta das pessoas erradas? - perguntou o desprezo.

De tanto pensar numa resposta, a felicidade cansou-se e sentou-se.

- Você é muito cheio de si, desprezo. Eu não acredito em seu desafio. Sou ou pior dos sentimentos. Eu domino todos os corações humanos. Sou o mais temido. Eu sim sou o motor deste mundo. As pessoas trabalham, comem, se divertem, se relacionam por temerem a mim. Eu trago inúmeras aflições aos corações das pessoas e com isso eu controlo o mundo. Controlo a medicina. A estética. O dinheiro. O progresso. - disse o medo.

- Não é o mais forte. As pessoas temem mais a mim. Para quem tem desprezo pelas coisas não faz jus ao medo. - simples assim disse o desprezo. O medo sem reação tentou se esconder de temor.

- Vejo que não há sentimento à minha altura. Quando há meu sentimento no coração das pessoas ele é predominante. Em quem despreza e principalmente em quem é desprezado.

Os sentimentos ficaram quietos, aterrorizados. Os bons sentimentos tentavam se unir no canto da sala, mas a impaciência não deixava que estes se organizassem. A vergonha quis se defender mas, como sempre, não teve a ajuda da sua amiga coragem. A dor, incapaz, só gemia. A tristeza, sempre inconstante, tentava ganhar forças nos braços da saudade. Parecia o fim. O desprezo teria razão... no coração das pessoas realmente ele era o sentimento mais poderoso. Mais mortal. Mais maligno.

Em meio a repentina glória ao desprezo, eis que entra na sala uma jovem de cabelos cumpridos. Nem alta, nem baixa. Nem gorda, nem magra. Nem branca, nem negra. De olhos e cabelos verdes.

- Como sempre, atrasada. - disse o desprezo. E completou: - tenho boas notícias. Eu sou o sentimento que predomina nos corações dos humanos. Sou o mais terrível. O mais maligno. O mais mortal. O mais temido. Ninguém conseguiu provar o contrário. Ficou bem claro aqui.

- Eu reconheço sua enorme força. Você é como um relâmpago. É um clarão forte de energia acumulada que se propaga pelos ares e depois some, impunemente. Você corta os corações das pessoas e não se importa com isso. Você destrói a bondade das pessoas. Você abre margens para a intolerância. Você finge adormecer... mas ao agir é como uma faísca em um mar incandescente. E quando menos as pessoas percebem há o seu tremor, há o trovão, a voz da sua ira. Mas saiba, desprezo, a mim você não assusta. Há movimento lá fora. Por mais que você convença as pessoas do contrário, eu sempre estarei com elas. Sabe porque? Porque mesmo que você mate todos os sentimentos desta sala a mim você não vai conseguir matar. Eu tenho inúmeros nomes... mas sou um único sentimento. Para quem acredita em mim você não vale nada. Tenho pena de ti e daqueles que lhe mantém vivo no coração. Mas saiba que para todos, até mesmo para aqueles que sofrem com sua estadia, ao pronunciar um único nome você já era. Tenho nome de fé. De compaixão. De misericórdia. Tenho nome de esperança.

Sem ter forças, o desprezo viu o seu fim diante da imensidão do verde da esperança. Derrotado se ausentou da sala.

- E vocês – completou a esperança aos demais sentimentos – cuidado com os poderes que vocês possuem. Não há sentimento bom. Não há sentimento mal. Não tentem ser uns melhores que outros. Vocês existem por se complementarem. Usem os poderes de vocês na dose certa e viverão em harmonia. Mas saibam que se algo der errado, será meu nome que irão chamar. E aquele que me chamar e acreditar em mim esterei pronta para acabar com qualquer um de vocês. - e ainda completou:

- E você, amor... a quem chamam de duradouro. Não há problema de ser indecifrável. Mas seja verdadeiro. Na minha ausência você será o síndico da casa. Será o síndico nos corações das pessoas.

27.1.08

Sinais

Funciona quando quer. Estou um pouco distante da net porque meu velhaco computador não está funcionando direito. Dependendo do mapa astral o PC dá sinal de vida ou de morte.

Nessa hora é inevitável fazer mais uma analogia curiosa. A mente humana, pelo menos por enquanto, não possui poder em prever o futuro. Então passamos a ter uma idéia de como as coisas estão indo interpretando os sinais ao nosso redor. Coisas boas e coisas ruins nos aguardam à frente. As vezes está bem claro aquilo que nos espera, outras vezes não. E é aí onde podemos cometer os mais diversos erros de nossas vidas.

Desde o acordar pela manhã ao adormecer pela noite somos bombardeados por esses sinais. E quando não interpretamos bem, tomamos escolhas equivocadas, o que só faz piorar as coisas. Uma palavra mal interpretada, um som diferente, uma imagem embaçada, um olhar diferente, um silêncio, um sorriso amarelo e muito mais são os canais que levam os diversos sinais às nossas mentes formando as ‘mensagens externas’.

Acredito que para a maioria das pessoas, o que eu disse até aqui não é novidade nenhuma. Mas, talvez, a novidade se encontra quando afirmo que ‘sinais ao nosso redor’ não necessariamente são percepções vindo de terceiros, vindo de outras pessoas, vindo do ambiente que você pertence. Esses sinais são subjetivos à sua mente. À sua própria interpretação de suas próprias ações. O que adianta perceber o ideal a ser feito se na verdade sentimos que não é o correto a ser feito? Esse questionamento vindo da alma é o mais importante e o mais poderoso sinal que a pessoa possui.

É como meu velho PC. Dá sinal de que está prestes à pifar de vez. Penso em doá-lo e comprar um novo... que na verdade apenas poderia resolver o problema trocando uma peça.

14.10.07

A Transição

Existia uma casa pequena, no alto daquela colina. Num lugar onde chovia constantemente e sempre fazia frio. Os donos da casa recebiam muitas visitas e sempre serviam chá com bolinhos aos convidados. A musicalidade era presente, o amor pairava por sobre a relva diante das árvores, dos rios, dos animais, de todos os habitantes.

A casa foi vendida. Os moradores mudaram. Precisaram sair. Não chovia mais. Não fazia mais frio. Acabou o chá. O forno quebrado não conseguia assar mais bolinhos. Esqueceram as músicas. Cortaram as árvores. Poluíram os rios. Mataram os animais. O amor acabou.

As pessoas esqueceram. Se esqueceram. E fazem questão de esquecer.

Mas existe um lugar onde o tempo não passa. Um lugar que serve de varanda para vida. O elo dos tempos. Lá você pode observar o nascimento do sol num horizonte enquanto contempla o crepúsculo no outro. Um ciclo que se fecha.

Um lugar de transição. Um lugar onde a verdadeira essência não morre.

(texto incompleto... indeciso... sem finalidade... até porque a história não termina por aqui)

4.9.07

Decisão e Alívio

Muito tempo atrás, ainda no meu ginásio, minha professora de Língua Portuguesa nos deu um texto para ler. O texto narrava a história de meninos, entre 12 a 14 anos, de um colégio interno religioso, que faziam várias estripulias.

O verão se aproximava e a diretoria precisava limpar a piscina e liberar para uso geral. Como castigo, na véspera da liberação, os pestinhas foram incumbidos a limparem a piscina. Cumpriram o castigo. Mas como vingança, secretamente, quebraram algumas garrafas de vidro transparente e deixaram os cacos no fundo da piscina pois, sendo rasa, feriria qualquer um que se jogasse afoitamente buscando o frescor contra o calor do verão.

Um dos meninos que participou da perversa brincadeira não se conformava com a tamanha crueldade da estripulia. Ainda tentou convencer os demais em não cometer tal barbaridade, porém sofreu ameaças em receber toda culpa sozinho caso comentasse a mais alguém.

A tragédia era eminente. As horas passavam. A noite já estava cedendo lugar para o dia de céu claro que se aproximava. O remorso, a angústia, as dores de estômago e o choro corroíam a alma do rapazinho. Até que pela manhã, este levantou decidido.

Assim como na aula de Língua Portuguesa de tempo atrás, a pergunta que não quer calar é: "qual foi a atitude do rapaz?". O texto foi retirado de um romance, que sempre procurei mas nunca encontrei. Me coloco no lugar desse garoto... amargurado... arrependido... pensando... maquinando no que fazer!

Sabe de uma coisa? Eu me jogaria na piscina.

7.7.07

7:7:7

Lá está ele. Na manhã de sábado o menino de pé olhando pro relógio análogo da parede. Muito novo ainda para entender as horas. Mas sempre pelas manhãs ele observa a dinâmica dos ponteiros, das frações que esse tempo gera, chegando a proporções infinitas.

Ele observa doze casas, romanamente numeradas e percebe que na metade de um dia ele poderia fazer doze grandes ações e na outra metade brincar e descansar. As casas grandes se sub-dividem em cinco pontos, que para cada casa o ponteiro médio consome sessenta destes pontos. Logo pensa que em sessenta pontos ele poderia construir, arrumar, brincar, comer, pular e falar. Parou um pouco pra pensar se o tempo de um ponto seria suficiente para arrumar sua cama desforrada.

Continuava de pé. E à medida que ele observava o movimento brusco do ponteiro maior, a naturalidade do ponteiro médio e a sutileza do ponteiro menor associava ao seu ritmo de vida. Estudos, amigos, família... tudo corrido, num espaço razoável de tempo para construir lentamente o seu futuro.

Eis o entendimento, eis o abrir dos olhos, um leve sorriso se fazia em seu rosto. Estava claro. Era absorção do conhecimento, do sentido do tempo, nascia ali, com tão pouca idade, um homem que tinha em mãos o seu propósito de vida. Para este menino, essa carga de conhecimento, essa busca sem fim, os ensinamentos, os valores e tudo mais deveriam ser compartilhados. Muito a se fazer, para multiplicar entre muitos a importância da busca da sabedoria. Da fuga do senso comum e da aparente inércia do ponteiro menor. Usando como trampolim o ponteiro médio levando a verdade na velocidade do ponteiro maior.

Muitos meninos ainda estão de pé. Olhando pro relógio. Respirando e levando a vida amarrados aos altos e baixos dos ponteiros. Circuncidados pelo cálice dogmático da robotização das horas. Mas entre eles, um deles, justamente ele, entende as imagens geradas na parede. O valor do tempo e o seu sentido de vida. Numa manhã de sábado, quando por uma fração de segundo o relógio marcava sete horas, sete minutos e sete segundos.

11.11.06

Duet

- Em minha mente...

"Lost inside my sick head
I live for you but I'm not alive
Take my hands before I kill
I still love you, I still burn"

"Show me who you are
I'll show you what you love
I'll give you half the world if that's enough
Let me take you down
Let me see you smile
Let me rest my head here for a while

In the end we'll leave it all behind
Cos the life I think I'm trying to find
Is probably all in the mind"

- Saía tudo errado... mas era de coração...
- Deixe-me descançar minha cabeça aqui por algum tempo...
- Hã...
- Não. Era só um sonho... see u...

3.11.05

Perdidos em Campo...

Eu tenho perdido a fome ultimamente. A fome de bola. Sem muito o que comemorar, meu time, bem pago, só trás decepção! Mas a culpa não é só da equipe não. Também é culpa dos dirigentes que sempre tem o poder de mudar os pauzinhos entre os grandes cartolas do ramo. Eis que a amargura é revelada em público... e que público! Grande público esse!! São muitos, com suas bandeiras! Pelo menos isso eu vejo de positivo nessa grande paixão nacional!

Mas tenho sentido muita cede. Cede de vitória. Vitória essa que nunca chega! Como custa p'ra ganhar esse time. E sempre que o tempo está quase esgotando, quando falta pouco para manter o sorriso presente diante de sua torcida, eis que tomamos um golpe, um gol... um gol contra! De água limpa e cristalina, terei que me contentar com a lama.

O sono ainda continua! Talvez reflexo desse time sonolento em campo. Que dorme muito cedo e costuma acordar muito tarde. P'ra piorar, alguns de nossos melhores craques estão sendo vendidos a preço de banana p'ro exterior. E quando há um bom investimento em nosso grande e imenso clube, ninguém consegue ver a cor do dinheiro... mais uma vez não temos sinais de progresso... nem mesmo na escolinha que ensina as regras básicas do jogo p’ros nossos pequenos iniciantes.

O nosso técnico anda perdido nas laterais do campo já sem voz de tanto clamar por um milagre. Milagre esse que anda longe de acontecer com nosso capitão já sem fôlego. Nosso ataque inoperante já não apresenta incômodo algum aos nosso adversários, muito previsível. Nosso meio de campo não administra de forma eficiente como nos tempos de glória. Nossa defesa apenas se limita a se manter de pé... talvez manter uma boa impressão venha a preocupar os adversários. O mesmo não posso dizer do nosso goleiro, que por mais que se esforce p’ra defender o seu bem maior, a corda sempre arrebenta p'ro seu lado... o levando a total fatiga que um ser humano possa viver.

Dizem que vão vender nosso clube.. mesmo estando na terceira divisão. Desconfiei logo dessa maracutaia quando percebi nosso gramado bem cuidado e verde. Nossa arquibancada toda numerada e organizada. E, claro, nossa imensa torcida que paga o ingresso mais caro dentre todas quando há uma grande partida... ainda acreditando, sempre acreditando, que haverá um grande espetáculo.

28.10.05

Retrô #1

Dou início a séria "retrô" na INSAMINUS. Os meus melhores textos do blog antigo agora publicados aqui. Começo com este que escrevi em 07/01/04. Bastante conveniente diante das catástrofes e turbulência que o mundo anda vivendo!

Um grito humanizado

   Basta um espirro para abalar os alicerces da petulância
   Basta um gemido pra desmoronar a pose faraônica do saber
   Não somos nada
   Não somos ninguém
   Somos casca de ovo

   Um impacto mais forte pra trincar nosso orgulho
   Um movimento infalso pra nos romper a vida
   Uma mudança de clima pra agonizar por terra

   Já não há no mundo o que aprender
   Já não há no mundo o que se surpreender
   As correntes do progresso evoluem
   A epiderme humana ainda congelada e primitiva

   Somos petulantes sim, mas somos sábios
   Somos nada e ninguém, mas somos casca de ovo
   Cascas de ovos podres.
07/01/2004