23.5.07

Momento Certo

Talvez a atitude mais repudiada para quem tem um objetivo sólido e bem fundamentado seja a desistência. Vejo o quanto nós somos submetidos a verdadeiros bombardeios de estímulos, sonhos e objetivos que nos levam a total exaustão de nossas forças na busca do que acreditamos ser o melhor para nós. Mas, pergunto... quando é a hora de desistir? Vale a pena seguir sempre com um sonho cada vez inalcançável?

São perguntas difíceis, quase impossíveis de se responder. Até porque a realidade da vida pinta a própria cara de diferentes formas aos que se atrevem a entendê-la. Desistir faz-nos entender o quanto poderíamos canalizar nossas forças para um objetivo mais próximo, concreto, palpável. Que, sim, poderá servir de âncora para objetivos maiores.

Desistir não é para os fracos. Talvez o comodismo. Desistir, sem o comodismo, é preparar-se para encarar um caminho alternativo, que talvez não seja o desejado, mas muito provavelmente é o ideal. É também questionável a desistência da vida. O que leva a pessoa a desistir de viver? Eu me questiono muito na atitude de um suicida que não utilizou elementos de exibicionismo ou o sensacionalismo em seu ato. Ato de covardia... ou ato de coragem?

Quando ouço "desistir nunca!!" lembro um episódio dos Simpsons em que Homer tenta a cada segundo pegar um pedaço de carne numa panela grande com água fervente. Fico imaginando isso na vida real. A cada segundo um grito de dor. A cada segundo uma queimadura mais profunda. Estupidamente uma pessoa querendo ir contra as leis da física, podendo obter seu alimento de maneiras mais seguras ou até mesmo obter outro alimento para saciar sua fome.

No filme Cruzada, o personagem Balian (Orlando Bloom) desiste de lutar pela defesa de Jerusalém por acreditar que causaria um número menor de mortes entre os habitantes cristãos da cidade. Ele optou em desistir, jogar fora seu orgulho, aceitar humildemente a derrota e preservar inúmeras vidas que habitavam uma cidade que estava sucumbindo aos ataques do exército sarraceno comandado pelo Rei Saladino.

No estudo de administração de empresas é muito comum os líderes submeterem seus subordinados a desafios que estão acima de seus limites. E é a partir desta técnica que há o crescimento da empresa e o crescimento profissional do subordinado. Mas, uma coisa é ser submetido a desafios de maneira consciente em que a pessoa administra seus recursos técnicos e intelectuais de acordo com o problema proposto. Outra coisa é, inesperadamente, estar numa situação de vida em que seus esforços físicos, mentais, sentimentais, intelectuais são elevados ao extremo, sem retorno, sem perspectivas.

Também não existe no dicionário esportivo a palavra desistir. É lógico que numa competição em que há atletas preparados para competir até o fim num intervalo de tempo, desistir é mais que fugir a regra. Mas não creio que isso se aplica numa competição que envolve luta, com um adversário totalmente imobilizado ou nocauteado. Nesse caso, ir até o fim pode ser sinônimo de morte.

O indivíduo que não desiste nunca desperta admiração entre os demais. Geralmente quando este chega ao triunfo. Mas quando há o fracasso, é muito provável que essa admiração se transforme em sensação de estupidez e de burrice. A atitude de se jogar de peito aberto à lanças e espadas poderia ser substituída por uma atitude mais estratégica, bem pensada.

As vezes nem sempre o que almejamos seja realmente o melhor a seguir. É complicado perceber que aquilo que acreditávamos ser o certo é algo a ser descartado por não gerar resultado em nenhuma dimensão. Perde-se tempo, recursos, esforço, estímulo e energia naquilo que pintamos como 'felicidade'.

O homem é passivo em aprender com o erro. Posso hoje dizer que nem sempre o menor caminho é o melhor a seguir.

13.5.07

Mãe


Coração de mãe é assim, sempre cabe mais um.

Felicidades para todas as Mães.

E um beijo e abraço especial para a minha Mãe.

3.5.07

Comfortably Numb

É um sono pesado. Como numa noite fria, que a gente nem sente passar dormindo sobre muitos cobertores. Mas a quentura é de febre e o suor é um sinal que estamos combatendo aquilo que quer nos destruir.

As vezes percebe-se figuras na parede, ilusão produzida pela luz e sombra que vem de fora. E há tosse sincronizada com o latido do cachorro na rua. Ah, outra coincidência... acabou de acontecer nessa linha.

Quando a febre irá passar? Há remédio pra isso? Porque é tão desgastante e dolorido as vezes que se tenta sair dessa paralisia tentando se movimentar livremente? O repouso é recomendado, mas o comodismo chega a ser incômodo. O gosto amargo, na boca e na vida, é como uma irritante microfonia seguida de uma doce melodia.

Não tenho medo. Nem do sono pesado nem das noites frias. E se a febre insistir em voltar, talvez eu a utilize para manter acesa a brasa que serve de combustível para a vida.